quinta-feira, 30 de maio de 2013

Psicologia da vovó moderna resolve?



Hora de dormir
     

            Quando a gente fica mais experiente...Não vou falar “mais velha”;) começa a lembrar do passado com nostalgia. Lembro-me que a hora de dormir era sagrada. Era assim:

          – Hora de dormir!” -avisava meu pai com voz firme. Ou minha mãe.

           
      - Bença, pai, bença, mãe!- eu me despedia. Simples assim. Não tinha exceção à regra, programa de televisão, nada... Hora de dormir era hora de dormir. Meus pais nunca souberam, mas eu ia dormir com a propaganda do cobertor Parayba na cabeça. Imaginava um ursinho de pelúcia como uma companhia durante o sono. O ursinho nunca veio. Meus pais podiam comprar, mas nunca souberam que eu gostaria de ter um urso de pelúcia. Ganhava bonecas, o tal do João Bobo, etc... Mas um urso de pelúcia não fazia parte da minha brinquedoteca.

          Agora, a hora de dormir infantil é mais flexível; diferente, aliás, muito diferente. A hora do banho da minha infância era a hora do banho. Nem mais. Nem menos. Sem desculpas. Tomar banho ou tomar banho na hora certa.
        
         Meu filho foi trabalhar e a Giúlia, minha netinha, ficou sob meus cuidados e, também, do meu filho do meio, Otávio. Giúlia e o Otávio se dão muito bem. Giúlia passou quase a tarde toda brincando na rua com as amiguinhas.

         No final da tarde, ela entrou e eu “entrei” com a psicologia da vovó:

         - Giúlia, agora é hora do banho! Depois, o lanche.- ela olhou pra mim e decidiu:

      - Primeiro o lanche, vó!-decidiu. Comeu seu lanche tranquilamente enquanto eu esperava o momento de atacar com minha psicologia de mil novecentos e bolinhas.
 
         - Giúlia, hora de tomar banho, porque depois ficará mais frio e  poderá se resfriar...ou pegar uma gripe. E terá que tomar remédio... blá, blá, blá. – é óbvio que esse tipo de convite ao banho não teve nada de psicológico. Minha neta estava atenta à televisão. Suspirei. Paciência de Jó! Uma hora depois:

       - Giúlia, hora de tomar banho!- ela olhou para mim e voltou os olhos para o televisor. Depois, comentou sem desviar o olhar da televisão:

      - Vó, agora, é o FERIADÃO DO SBT. Já assisti esse filme! Eu adoro...Vó, depois do filme, ta?- se fosse no passado meus pais agiriam assim. Desligariam a televisão imediatamente e lançariam aquele olhar de poder. E eu correria para o banheiro.
 
     Eu estava com preguiça de ficar repetindo a mesma coisa. E, com mais preguiça ainda de ficar brava. Sem disposição nenhuma de assistir uma birra. Era o momento exato para testar meu “poder de avó psicóloga. Assisti ao filme enquanto a Giúlia ria e comentava cada cena. O filme terminou. Recomecei minha ladainha:

   - Giúlia, hora do banho...Está mais frio e depois... Blá, blá, blá, bla.- minha netinha olhou para mim e afirmou categórica:

 - Vó! Depois, tá? Agora, começou o filme das “Visões da Raven” no SBT. Você já assistiu? Ela tem visões, mas dá tudo errado!- dei um longo suspiro. E, também, assisti as visões da Raven. E, assim, começou a novela Carrossel... E sempre o depois. Um depois eterno. Meu poder de avó psicóloga estava sendo testado. Cruelmente sendo testado. Afirmei para mim mesma que minha neta não dormiria sem banho!( aliás, ela está tentando ler tudo o que eu estou escrevendo)

  Giúlia assistiu aos filmes e, depois, foi para o computador. Gosta de desenhar e fazer joguinhos no computador. Precisava voltar ao assunto do banho:

  - Giúlia, está na hora de tomar banho. Aliás, já passou da hora do seu banho.- Giúlia estava com o fone de ouvido. Olhou pra mim e afirmou:

 - Vó, não estou ouvindo nada!- safou-se bem, não? Meia hora se passou e eu pensando numa técnica poderosa de fazer com que minha netinha de seis anos tomasse banho antes de dormir. Ou pelo menos antes do pai dela chegar. Sem birra e chantagens emocionais.

  Aproximei-me lentamente do micro e fui bem direta:

  - Giúlia, seu pai vai chegar tarde. E, se ele resolver que você deve tomar banho a uma da madrugada? Você está me enrolando e uma dia vou enrolar você também. Não vou mais repetir! Tem que tomar banho e pronto! É a última vez que estou repetindo isso!

  Voltei ao meu quarto. Cinco minutos depois ela veio correndo:

  - Vó, vou tomar meu banho! Você me ajuda?

 Ufa! Funcionou!

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